segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Drummond erótico

Quem disse que o grande poeta mineiro Carlos Drummond de Andrade (foto) era apenas um homen tímido e mal-humorado? Ledo engano. Drummond também tinha seus momentos de sarcasmo a bom humor. Num desses momentos de descontração, o poeta de Itabira tirou a "pedra do caminho" e escreveu a respeito de uma noite mal dormida:

'Satânico é meu pensamento a teu respeito,
e ardente é o meu desejo
de apertar-te em minha mão,
numa sede de vingança incontestável pelo
que me fizeste ontem.

A noite era quente e calma e eu estava em minha
cama, quando, sorrateiramente,
te aproximaste.
Encostaste o teu corpo
sem roupa no meu corpo nu,
sem o mínimo pudor!

Percebendo minha
aparente indiferença,
aconchegaste-te a mim e
mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares.

Eu adormeci.

Hoje quando acordei,
procurei-te numa ânsia ardente,
mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol,
provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu
durante a noite.

Esta noite recolho-me mais cedo,
para na mesma cama te esperar.
Quando chegares,
quero te agarrar com avidez e força.
Quero te apertar
com todas as forças de minhas mãos.

Só descansarei quando vir
sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti,

pernilongo
Filho da Puta!'


Colaboração: Margô Negro

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