sexta-feira, 1 de maio de 2009

Sou lá de Cachoeiro do Itapemirim

O alvorecer em Cachoeiro. Ao fundo, o Pico de Itabira, um dos símbolos da cidade

Na maior parte da vida, a gente acha que o tempo passa rápido demais. Entretanto, vejo agora estas notícias de que o RC vai comemorar 50 anos de carreira, enquanto a maioria de nós mal tem 50 anos de vida... Faz quase 9 anos que não vou a Cachoeiro. Pouco antes de me mudar para os EUA, tive o cuidado de visitar a pequena localidade no alto da serra do Caparaoh, para onde se mudaram meus bisavós vindos da Itália no final dos 1800. Tenho um respeito imenso pela batalha daquela gente toda. Ainda tenho muitos parentes, principalmente primos e alguns tios que restaram vivos, por lá.
Cachoeiro é uma cidade com poucos registro históricos. Sem vaidades, deveria ter muito mais, diante do muito que por lá aconteceu desde que foi fundada. Imagino que isto se suceda com muitas outras cidades brasileiras...
Não faz muito tempo que descobri fatos políticos importantes, curiosos, ocorridos em Cachoeiro, os quais desconhecia. Nada glorioso e pouca coisa digna para lamentar que se tenha ido. Talvez, a grande ênfase que certo governante deu à educação, fato que levou o pai de Chico, Sergio Buarque de Hollanda, a se radicar na cidade por algum tempo. Houve uma Academia de Letras Cachoeirense... Quem sabe a presença marcante dos macons (massons) na cidade...
No mais, acontecimentos que chegam a ser patéticos, como, por exemplo, o desenrolar da revolução de 32 na cidade... Acho que o fato de muitos italianos e alemães terem vindo para Cachoeiro (serras), politizou bastante o lugar...
A cidade em si não tem nada de especial além de, por uma noite, o Roberto Carlos Especial. Tem montanhas rochosas muito lindas, as quais por muitas décadas ficaram em minha memória de maneira marcante. Hoje, não mais tanto... Atrás de uma montanha, sempre há outra montanha e, assim, outras vieram em minha vida... Tem o Rio. Não o de Janeiro, cujas águas arrastaram tantos cachoeirenses, inclusive Roberto, que canta "...vim ao Rio de Janeiro pra voltar e, não voltei...". Falo do Rio Itapemirim que, um dia, foi muito lindo, cheio de corredeiras, ilhas, largo; um rio com personalidade... Nadei nele, andei grandes distâncias às margens dele. A saudade dele causa-me certo incômodo. Fico triste de pensar ao que reduziram o Itapemirim... Deixa pra lá...
Não saí de Cachoeiro. Tiraram-me de lá aos 5 anos de idade. Não fui para o RJ e voltei. Voltei muitas outras vezes e, em todas elas, Cachoeiro recebeu-me bem e fui feliz. Ouço agora falar de muita violência em todo o ES. Violência incomum; não falo dessas violências que assustam gringos pasteurizados.
Não bastasse, volta e meia, chegam às minhas mãos estas piadas, nas quais o mote é a ignorância das pessoas em relação ao idioma português. Os tais "Provões". Reparo que é comum o "crime" ter sido cometido por algum aluno capixaba... Também isto me aborrece. Amo minha língua de origem, muito mais do que alguns idiotas supõem, pois, ela sim, é minha verdadeira nacionalidade.
Não, não é a fidelidade ao jagunço, ao caudilho, ao milico de plantão que me faz brasileiro. É o amor à terra, pois esta ficará e, todos, bons ou ruins, terão de um dia de dali sair...
Enfim, Leninha, nasci em Cachoeiro e, nunca soube o porquê. Nem preciso. Sei que dificilmente voltarei a morar lá. Sei que, sempre que puder, voltarei lá. Tem muitas frases engracadas sobre cidades. Com Cachoeiro, não acontece diferente. Lembro de uma, que segue assim: O sujeito morre, chega ao céu e, diante da dúvida de São Pedro em admiti-lo ao Paraíso, como argumento final, sussurra ao santo: "Sou lá de Cachoeiro...". Espero que funcione...
Em tempo: A frase é de Rubem Braga, outro cachoeirense...


Bosco

Um comentário:

helena disse...

Como sempre Bosco escreve prosa que soa como poesia.Versos tão bonitos ditos como só ele sabe fazer. Tão bonitos...