sábado, 14 de março de 2009

Diário de um aprendiz de pinguim - II - ........ Torneio de futebol do CESA

Essa semana, enquanto dormia no avião a caminho de Toronto, tive um sonho. Nesse sonho, me vi novamente disputando a final do Torneio de Futebol realizado no CESA, acredito que em 1969 ou 1970. Conseguia ver o Bassi, o Moretti, o Tomé, o Valdir e o Gilson, mas não me lembro como terminou essa partida (no meu sonho) e, devido a alguns fatos, só me lembro de algumas partes dessa partida (a original). Mas vamos aos fragmentos de memória que me surgiram:
Não sei de que forma, mas tenho certeza que foi vencendo as demais classes que a nossa equipe, do 1º Colegial, chegou a final do Torneio. Acredito também que seja porque o time era muito bom, pois se dependessem muito do goleiro não teríamos feito progresso.
O goleiro do nosso time era esse pobre mortal que vos fala. Logo eu, um perna-de-pau de primeira linha, cheio de boa vontade, mas sem nenhuma habilidade com a bola nos pés. Talvez tenha sido por esse fato que fui jogar no gol, ou melhor dizendo, que sobrou o gol para eu jogar.
Disputaríamos essa final com uma 4ª Serie, a classe do meu primo Dorival Comparini e da qual fazia parte o Ortega, rotulado pelo Dorival e outros como um craque da bola (e ele realmente o era). Tinha o porte e a agilidade de um atleta profissional, mas só me lembro dele naquele time, os demais integrantes, por melhores que fossem, não consigo me lembrar.
O nosso time: eu (Jair Mazurkiewics) no gol; Bassi, Tomé, Gilson, acho que o Tobé, o Moretti e o Beltran (o Paraná dos tempos do Padre Angélico e o Movimento Juvenil do Senhor do Bonfim), acho que também o Valdir, o Humberto e não me lembro se o Bosquinho também estava conosco.
Explico por que é tão difícil lembrar quem estava jogando no nosso time: é que na minha posição (goleiro) eu só via o nosso pessoal de costas. Pois para minha sorte nosso time era bem melhor que o deles e a bola pouco chegava na nossa área, e quando chegava nossa zaga conseguia neutralizar o Ortega, e dessa forma, ou chutavam pra fora ou nas mãos do Jair. Apenas uma bola espirrada na nossa área sobrou e antes que alguém do outro time chegasse para chutá-la. Eu me atirei no a agarrei. Ralei a mão esquerda na terra vermelha daquele campo (porque grama, que era bom, não tinha uma folha sequer).Essa ousadia me rendeu uma cicatriz no dorso da mão esquerda que até hoje é visível e que eu carrego como uma ferida de guerra, da "única vez na vida que consegui jogar uma final de uma partida de futebol".
Mas, voltando ao jogo, para a nossa sorte terminamos empatados e fomos para a disputa em penalidades. Nosso batedor oficial, o Bassi; o batedor oficial deles, o Ortega.
O Bassi cobrava a penalidade e gol, um chute colocado, bola a meia altura e era goleiro de um lado e bola do outro. Ai vinha o Ortega, um canhão de chute, tanto que se eu me atrevesse a tentar agarrar aquela bola iríamos eu e ela pra dentro do gol. Eu não me atrevia nem a me mexer. Quem sabe ela me acertaria nas pernas, ou em qualquer parte do corpo e não entrasse no gol. Eu poderia ficar com algum hematoma, mas seríamos campeões por sorte. Mas, que nada, era um gol nosso e um deles, um nosso e um deles, até que cansado dessa rotina o Bassi chutou propositalmente (eu acredito) a bola pra fora.
Dessa forma, fomos vice-campeões do torneio, não sei nem se havia troféu para o vice, ou se era somente para os campeões, ou se não havia troféu para ninguém, porque sempre prevaleceu a máxima de que vice não é campeão, mesmo tendo vencido a todos e só perdido para o time que não perdeu para ninguém.
Para mim, aquele vice-campeonato teve gosto de campeão: o Jair, um perna-de-pau, um cara que só chutava de perna direita e tinha as duas pernas esquerdas, que quando jogava na linha não sabia o que fazer com a bola, chegar a ser vice-campeã de um torneio sempre foi motivo de muito orgulho. Mas logo tudo isso caiu no esquecimento, talvez substituído por algo mais relevante.
A lição que ficou dessa simples partida de futebol é que tudo é possível se houver união. Uma máquina pode trabalhar precariamente com uma peça defeituosa, ou o nosso próprio corpo pode até trabalhar com um órgão deficiente (doente), mas se não for substituída a peça defeituosa ou tratarmos o órgão deficiente, o conjunto pode entrar em colapso e danificar outras partes.
Uma partida de futebol, estejamos jogando ou assistindo, é um momento de lazer, e não é uma razão de viver. Uma derrota, seja ela qual for, não é o final da vida. É o inicio da aprendizagem e, finalmente, você pode ser protegido por alguém durante algum tempo, mas uma hora ou outra você vai ter que se apresentar e mostrar sua real capacidade, o seu real valor.
Mas vamos parar por aqui, esse final tá parecendo mais final livro de auto-ajuda do que o final de uma estória pitoresca.
Peço perdão aos atletas que não mencionei, mas não foi por maldade, foi por falta de memória mesmo, e aos que não estavam naquela partida e eu inclui foi pela mesma razão. Os amigos que têm a memória melhor que a minha por favor se manifestem e contem essa passagem pelo seu ângulo de visão e capacidade de memória.

Jair Dezotte

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