terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

O estranho

Alguns anos depois de meu nascimento, meu pai conheceu um estranho que apareceu em nossa pequena cidade. Desde o comeco, papai ficou encantado com o recém-chegado e logo convidou-o a morar em nossa casa. O estranho foi rapidamente aceito pela familia e passou a ser presenca constante entre nós.
A medida que eu crescia, nunca questionei a presenca do estranho em nossa familia. Em minha jovem mente, ele tinha um lugar especial. Meuspais eram instrutores complementares: minha mãe ensinou-me a diferenca entre o bem e o mal; papai ensinou-me obediência, mas o estranho...ele era o nosso contador de historias! Ele nos mantinha atentos as suas histórias de aventuras, mistérios e, comédias por horas a fio. Se eu quisesse respostas sobre o passado, entender o presente e mesmo sobre o futuro, ele as tinha todas! Ele levou minha familia para a sua primeira Copa do Mundo... ele me fazia rir... ele me fazia chorar...
O estranho nunca parava de falar mas meu pai parecia não se importar e, mesmo, diria que gostava... Algumas vezes, mamãe, discretamente, saía da sala, enquanto nós todos ficávamos concentrados no que o estranho falava e ia para a cozinha buscando um pouco de silêncio e paz... Hoje me pergunto se alguma vez ela orou para que o estranho se fosse...
Papai estabeleceu certas regras morais para nossa casa mas o estranho nunca se sentiu obrigado a segui-las... Palavrões, por exemplo, nunca foram admitidos... entretanto, uma ocasião, nossas visitas saíram de casa com a palavra "F .. A" a lhes queimar as orelhas, enquanto meu pai se encolhia no sofá e mamãe, ruborizada, não sabia onde se esconder... Meu pai nunca permitiu-nos beber bebidas alcoólicas; o estranho, no entanto, vivia a nos encorajar para que as experimentássemos. Fazia com que os cigarros parecessem coisas elegantes e distintas...
Nós falávamos, abertamente, sobre sexo... muito abertamente. Seus comentários, às vezes, eram chocantes; algumas vezes, sugestivos e, em geral, embaracosos... Eu sei que os meus primeiros conceitos sobre relacionamentos foram erradamente influenciados pelo estranho. Muitas vezes ele se colocou contra os valores de meus pais mas, raramente foi contrariado por eles. Pior, ele NUNCA foi solicitado a ir-se embora...
Mais de 50 anos se passaram desde que o estranho mudou-se para nossa casa. Ele misturou-se à família e, já não soa mais tão fascinante como antes. De todo modo, se você adentrar a casa de meus pais, irá encontrá-lo em seu canto na sala de visitas, esperando que alguém o ouca e olhe suas imagens... Seu nome? Nós o chamamos simplesmente pelas iniciais "TV"
Ele agora tem um companheiro chamado computador!


(Colaboração do nosso João Bosco para o Leninha News.com, numa tradução de um texto em inglês)

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