sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

O real sem calcinha no carnaval

Interessantíssima essa discussão via e-mails no Leninha News.com envolvendo o Bosco, o Caetano, os professores Eduardo, Emir e Helena, o Gilmar, o Gilson e até a participação do jornalista Luiz Nassif, em artigo de sua autoria. Na polêmica, discute-se desde a autoria do Plano Real, no início da década de 90, até as raízes do nosso caráter (ou falta dele) enquanto nação, passando por questões não menos inquietantes como o episódio envolvendo o ex-presidente da República, Itamar Franco, e a modelo Lilian Ramos, sua acompanhante num desfile de carnaval no Rio de Janeiro. Para quem não se lembra, a moça deixou-se fotografar – ou foi flagrada - no palanque presidencial, o lado do próprio presidente, sem calcinha.
Ao longo de toda a polêmica, que Leninha batizou de Faíscas da Política no ar, os debatedores dão grandes toques e fazem importantes considerações sobre a nossa história recente, com pinceladas sobre a contribuição de personagens como Juscelino Kubitschek, Leonel Brizola, Celso Furtado e tantos outros nomes, à nossa história.
Mesmo sem ter a pretensão de reabrir a discussão, não dá para não deixar também registradas aqui no nosso blog algumas considerações sobre a questão da origem de algumas de nossas mazelas enquanto nação.
Se bem analisarmos, constataremos que nossos problemas remontam à época do descobrimento e de nossa colonização. Afinal, quem nos formou, como nação, como povo??? Quem eram os degredados que foram despachados para cá – além-mar, ou quinto dos infernos –, como castigo, para crescerem e multiplicarem-se? Quem eram esses primeiros brasileiros? – depois dos índios, naturalmente.
Nosso processo de colonização juntou a escória européia, nativos inocentes e despreparados para se imporem como cultura dominante; negros escravos, arrancados (literal e figurativamente) de suas raízes na distante África, do outro lado do Atlântico; e – bem mais tarde – uma aristocracia decadente, covarde e corrupta, que fugia do domínio de Napoleão Bonaparte na Europa.
Pois bem, misture a ambição e corrupção do europeu, a inocência e despreparo indígena e a desesperança e servidão do negro africano, ferva tudo isso com azeite de dendê ao sol dos trópicos e teremos o povo brasileiro, com toda sua inteligência e criatividade mas também com boa dose de malemolência, jogo de cintura e muita “catigoria”. E assim somos nós (com melhoramentos) até hoje. “É nóis, mano!!” – diria o brother da periferia.
Entretanto, independente de quem foi o responsável pelo nosso atraso social – hoje bem mais grave que o econômico – ou de quem nos tirou da caderneta do FMI, o fato é que, como diz o Bosquinho, navegando nas águas de Darcy Ribeiro, Paulo Freire e mais alguns ilustres brasileiros, somente com a educação de qualidade e acessível a todos os brasileiros, o país irá finalmente lançar as fundações sobre as quais se erguerá e cumprirá seu papel de nação livre e justa.
Educação é a palavra-chave, mágica que nos tirará do atoleiro. Enquanto isso, tem razão o Gilson quando diz que não importa o partido, o político ou quem quer que seja. “Se elegemos (com ou sem nosso voto), temos obrigação moral de cobrar, sempre.” Gilsão concluiu seu desabafo propondo uma cobrança sem tréguas aos nossos políticos e pergunta: “ou não era esse o nosso ideal nos idos tempos de colégio?”
É isso aí, Gilsão. Há de se lamentar, apenas, que toda essa discussão não se tenha dado também aqui, no nosso blog.


2 comentários:

Bosco disse...

Ney, essa fotografia, hein! O incauto que nao etiver informado, podera pensar que o Itamar estava em campanha, com a sua vice discursando (repare no ar grave da moca). Soh nao entendih bem a postura do Itamar, assim como que oferecendo os pulsos para ser algemado... estranho, nao? Em sua analise do tema, vc faz colocacoes interessantes. Essa salada de racas, provocou uma total "amnesia" cultural em nosso povo. Eh tudo muito bonito, muito interessante, muito "comadrismo" nessa tao louvada miscigenacao. Entretanto, culturalmente, perdeu-se muito. Eu fico imaginando a zorra que deve ter sido Joao Ramalho, catolico, casado com Bartira, provavelmente adoradora de sois e luas, tentando passar para seus filhos suas tradicoes e cultura. E, tradicao e cultura de um povo, eh fundamental para a formacao de uma nacao. Racismo eh uma coisa e, coisa muito nojenta. Preservacao de cultura eh outra coisa totalmente diferente. Posto isto, nao sei que vantagem levamos com a tao decantada miscigenacao dos povos... Houve sim, muita crueldade e exploracao dos mais fracos pelos mais fortes... O resultado estah ai..

Nei Souza disse...

Você está coberto de razão quando diz que houve muita crueldade e exploração dos mais fracos pelos mais fortes na formação do povo brasileiro - e a escravidão foi talvez a mais forte e emblemática manifestação dessa exploração, que, aliás, não terminou com a assinatura da Lei Áurea, nos idos de 1888. Mesmo dando um tiro em meu próprio pé (já que não sou totalmente tição nem ariano), não costumo fazer apologia da miscigenação brasileira, embora também veja méritos nela. Nós somos uma nova raça, diria Darcy Ribeiro.
Também acredito na importância da preservação cultural de um povo, no valor das tradições (certas tradições... outras, são para serem quebradas, mesmo), que lhes dão uma identidade, um RG único. Mas nós somos jovens mesmo e talvez ainda não tenhamos essa identificação profundamente gravada em nosso DNA. Essa amnésia cultural à qual você se refere não seria porque antes do parto nada existia e só a partir dele tudo passou a haver?
Não vou dizer também que não temos valor... temos, sim! Quando me refiro à criatividade e ao jogo de cintura do brasileiro, penso nas barreiras, nos obstáculos, que tivemos que superar para chegarmos aqui. Você sabe, nossa história é pródiga em exemplos.
Somos, sim, um povo jovem, cheio de problemas, “malemolente” (tipo Macunaíma), mas criativo e com grande futuro pela frente, à espera de ser alcançado. Temos muito que caminhar ainda e a estrada é longa. A educação, o caminho.
É isso aí, Bosquinho. Ô, Bosquinho, me diga uma coisa: cadê os brothers e as sisters? Cadê Bolinha? Cadê Giminha? Cadê Gilsão? Cadê Niva? Cadê Caetano? Cadê Nilza? Cadê Helena? Cadê a tchurma? Você prometeu dar uma cutucada no Orkut da Selma, não promete?